“Most People Have Been Trained to Be Bored”: Na falta de dados que o confirmem, pode-se dizer que a afirmação que dá nome ao projecto de Gustavo Costa é uma generalização. Não consta que haja números que apoiem a tese, não é provável que este disco seja uma pesquisa, pelo que não podemos aceitar a frase como facto. Mas é normal lançarem-se desabafos assim, umas vezes por facilidade, outras porque alguns indícios da sociedade parecem dominantes. Porém, e no que à música diz respeito, às vezes parece mesmo que o mundo prefere aborrecer-se de morte. As fórmulas repetem-se, as avalanches de temas sucedem-se e pouco fica para o dia seguinte – por falta de qualidade na fonte e/ou mau uso de quem ouve.
Mas isso é a generalização a impor-se. Porque até o mais pessimista dos cépticos sabe reconhecer a excepção. Gustavo Costa, por exemplo, não se deve ter aborrecido a fazer este álbum e não nos chateia com mais uma redundância estilística. Primeiro, porque este é daqueles discos que começam sem se saber como acabam, o que é válido para músico e ouvinte; depois, porque há aqui uma procura que começa no som, atravessa as sensações e se instala no covil da personalidade. Um disco assim traça um círculo em torno de quem o fez e recebe quem o ouve com um espelho granular. É esse jogo de correspondências que nos leva a percorrer os seus ruídos, silêncios e instrumentos entrecortados. A outra face das generalizações vai surgir na altura de catalogar estes temas. Música electrónica? Experimental? Improvisada? Ambiental? Noise? Electro-acústica? Algum destes carimbos há-de lhe ser colado. Mas mesmo sendo um pouco de tudo isso, é, acima de tudo, um álbum do seu autor – um cidadão que se recusa a ficar num casulo de tédio a carcomer as próprias asas. Continuando a generalizar, podemos dizer que a maior parte das pessoas não vai ouvir o disco. Não terão uma opinião sobre este (positiva ou negativa, tanto faz), se calhar porque estão habituadas a treinar o enfado e a recear a novidade. Mas como não temos estatísticas que apoiem esta previsão, podemos estar muito enganados. Riscos da generalização, portanto…
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