Tornou-se lugar-comum dizer-se do jazz como “o som da surpresa”. Na multiplicidade das linguagens de hoje, a música improvisada, mais que o free jazz, é campo onde este efeito poderá surgir com maior incidência. A obra de Carlos Bechegas é disso exemplificativa: surpreende pelo discurso “anormal” conferido à flauta, imprevisível, em que o fluído melódico observará tão-somente centros tonais, tempo variável, diversidade de moods, timbre, intensidade. A audição de «Flute Landscapes» evidencia, para além de técnicas e processos utilizados na “música erudita” e no jazz – e aqui seria de citar James Newton em efeitos acústicos, na vocalização ou sopro contínuo, – o trabalho experimental, de pesquisa e bem sucedida inovação instrumental e composicional.
Carlos Bechegas reconhece a influência que Evan Parker ou Derek Bailey, talvez mais do que Lacy ou Kowald, exerceram na sua prática, e com que se identificará na linguagem estruturada, conceptual, duma menor espontaneidade, duma relegada essencialidade do swing ou blues intonation de muitos freejazzers. Assim se afirma hoje como um dos mais conceituados improvisadores da “cena” portuguesa.
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