A América de Moondog é a América freak, longe das bolsas em montanha russa e do apelo ávido do dinheiro. Quem, como ele, compôs uma série de tão maravilhosos madrigais, com vozes femininas, harpas e os tam-tams indígenas?

Moondog

Machines were mice and men were lions once upon a time. But now that it’s the opposite it’s twice upon a time.
Louis Thomas Hardin

Costuma dizer-se que em terra de cegos, quem tem um olho é rei.

Louis Thomas Hardin aka Moondog cegou aos 16 anos, quando uma fortuita barra de dinamite explodiu perto do seu rosto. Todavia, o que tinha visto e ouvido até essa idade de juventude, seria suficiente. Quando era menino, visitou as reservas dos índios norte-americanos com o pai e deixou-se fascinar com o ritmo dos tambores tribais – esse semelhante ao batimento cardíaco, presente em inúmeras composições suas.

A América freak de Louis Thomas Hardin

A América de Moondog é a América freak, longe das bolsas em montanha russa e do apelo ávido do dinheiro. Quem, como ele, compôs uma série de tão maravilhosos madrigais, com vozes femininas, harpas e os tam-tams indígenas? Na sua música não há convenções sociais nem o chá de caridade, não há o típico puritanismo americano, nem a hipocrisia religiosa.

A música de Moondog é livre como um pássaro. Tão depressa escrevia uma peça dedicada à inesperada morte do mestre Charlie Parker, como flirtava com a música de câmara ou a tradição Folk dos índios e dos pioneiros europeus das Appalachians. E as suas gravações caseiras da década de ’50 punham em prática algumas ideias da Musique Concrète de Pierre Schaeffer e Pierre Henry, ao adicionarem sons do meio ambiente, aleatórios ou propositados.

O músico do capacete viking e longas barbas brancas

Moondog conheceu alguns dos maiores compositores do seu tempo, incluindo um Igor Stravinsky exilado da sua Rússia natal. Todos eles (Alan Hovhaness, Aaron Copland, Leonard Bernstein, John Cage, Lou Harrison, George Crumb, Harry Partch, Thelonious Monk) admiravam o seu porte hierático, de longo capacete viking e longas barbas brancas. E depois, toda a Escola Minimalista (Terry Riley, Steve Reich, Philip Glass, John Adams, Meredith Monk) e outros heterodoxos como Laurie Anderson e Tom Waits se curvaram perante este génio delicado e a sua música que parecia celebrar a nostalgia da infância e a utópica liberdade que a América nunca conheceu.

E eis que, nos anos ’90, a sua música é outra vez redescoberta e, entre muitos concertos, é convidado a gravar novos álbuns na Alemanha, onde residia desde 1974. Foi neste país que, em 1999, fechou definitivamente os olhos e partiu para as longas pradarias das estrelas.

No firmamento, uma dessas estrelas “tem” o nome de Moondog – o cão que ladra à Lua.

Texto CC BY 4.0 // António Jorge Quadros
Imagem © Moondog’s Corner

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