A EDITORA
Fomos buscar ao nosso nome ao latim, apropriando-nos do termo “audeo”, que se pode traduzir por ousar e, ao mesmo tempo, confundir com “áudio”, que na língua portuguesa se refere ao registo, reprodução e transmissão do som. E assim tivemos a audácia de criar em 1991 as condições para abrir no Porto a audEo, uma loja de música, completamente diferente das que existiam até então em Portugal.
A audEo importava e comercializava discos, publicações e outros artigos relacionados com as músicas alternativas mais criativas. Instalados num espaço de dimensão extremamente reduzida, numa galeria comercial situada na avenida da Boavista, no Porto, aí atendemos ao longo de muitos anos um número sempre crescente de clientes, a maioria dos quais regressavam para procurar novidades e artigos importados por pedido especial.
Logo no início do ano seguinte começámos a representar algumas marcas habitualmente ausentes do mercado nacional e a distribuir os seus produtos a outras lojas, um pouco por todo o país. Foi o caso das europeias All Saints Records, Ash International, Ex Records, Geometrik Records, Golden Years of New Jazz, In Situ, Incus, Jungle Records, Konkurrent, Leo Records, Leo Records Laboratory, Materiali Sonori, Metamkine, Ministry of Power, Minus Habens Records, No Man’s Land, No Wave, No-CD Rekords, Nova Musica, Opium (Arts), RealAmbient, RecRec Music, ReR Megacorp, Review Records, Revista de Arte Sonoro, Rude Noises, Serpent’s Tail, Sordide Sentimental, Sub Rosa, These Records, Too Pure, Touch, The Wire Magazine e Yucca Tree Records, e das americanas Ambiances Magnétiques, Forced Exposure, Giorno Poetry Systems, Knitting Factory Records, Les Disques Victo e Subterranean Records, entre outras.
Na sequência dessa experiência, criámos, em 1997, a editora que até hoje lançou os seguintes trabalhos:
CARLOS ZÍNGARO – Release From Tension – CD – AUDEO 0197
Em 1997, por iniciativa do jornalista e crítico de música Rui Eduardo Paes, editámos o nosso primeiro disco: um novo trabalho de estúdio do violinista Carlos Zíngaro (músico bem conhecido internacionalmente e que por cá se destacou na Banda do Casaco e no grupo Plexus). Para além do violino, a obra incluía guitarra portuguesa, voz e eletrónica tendo até, num dos temas, a presença vocal do seu pequeno filho David Alves (atualmente violinista que se movimenta na mesma área do pai). Para os habituais seguidores de Zíngaro, este foi um disco que os surpreendeu mas, como escreveu o crítico Alexandre Pierrepont na revista francesa Jazz Magazine: rien ne manque ici d’intérêt. Essa foi também a nossa opinião e um começo editorial de que muito nos orgulhamos!
CARLOS BECHEGAS – Flute Landscapes – CD – AUDEO 0298
Já distribuíamos em Portugal os discos da britânica Leo Records, editora fundada em 1979 por Leo Feigin, produtor russo exilado e radialista na BBC. O trio do flautista Carlos Bechegas (com Ernesto Rodrigues no violino e José Oliveira na percussão) tinha editado em 1997 na Leo Records Laboratory e o músico português que também integrou o grupo Plexus propôs-nos lançarmos o seu primeiro disco a solo. O novo trabalho, para flauta, eletrónica e voz, foi lançado em 1998 e muito bem acolhido. Disse sobre ele o conhecido crítico Miguel Jorge Veloso, no Diário de Notícias, sobre esses 28 temas dos 70 minutos de música em solo absoluto: longe dos puros exibicionismos, mas criativamente empenhado na luta contra os próprios limites materiais e físicos do instrumento, Bechegas chega assim à verdadeira notabilidade.
VITORINO ALMEIDA VENTURA – Memórias de Ansiães (Vol. 2) – Livro – AUDEO FDS001
Em 1998 lançámos também um livro de Vitorino Almeida Ventura, escritor, letrista, compositor e vocalista do grupo de rock experimental U Nu. O “volume 2” concretizava o regresso, embora irónico, à obra homónima de 1721 por João Pinto de Morais e António de Sousa Pinto Magalhães, depositada na Torre do Tombo e reeditada em 1985 pela Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães. Dando seguimento à obra original, este “romance” cáustico e profundamente inventivo levava-nos a pensar se o que se passava neste país do final do milénio não seria um mero reflexo das criativas histórias trazidas das memórias de Ansiães, no Portugal do fim do mundo! O livro foi lançado na nova coleção fora de série (FDS), dedicada a edições únicas e limitadas, tendo entretanto esgotado e sido descatalogado.
ERNESTO RODRIGUES / JORGE VALENTE – Self Eater And Drinker – CD – AUDEO 0399
Seguiu-se, em 1999, o disco de música eletroacústica improvisada do violinista Ernesto Rodrigues (que tocou com Fausto, Jorge Palma, Carlos Bechegas e outros músicos, desenvolvendo em breve uma profícua carreira como músico, programador e até como editor) com o instrumentista Jorge Valente (que integrou o histórico grupo de free jazz e rock psicadélico Plexus, por onde passaram também Carlos Zíngaro, Celso Carvalho e Rui Neves) no sintetizador e computador. Com influências do pós-serialismo e da preparação instrumental de John Cage, o resultado sonoro é agradável mas ainda inclassificável: eight movements flowing without any fatigue, showing everybody that no definition is necessary when intelligence is involved, assim o descrevia o crítico Massimo Ricci, para o blogue Touching Extremes.
AMÉRICO RODRIGUES – O Despertar do Funâmbulo – CD – AUDEO FDS002
Este disco de poesia sonora para a voz incendiária de Américo Rodrigues foi gravado de 1996 a 99 e lançado no ano seguinte. Homem de teatro e figura maior da programação cultural na cidade da Guarda, o vocalista usa a sua voz como um verdadeiro instrumento, seguindo as pisadas de outros autores e intérpretes de poesia sonora, criando e reinventando expressões sonoras para a palavra. Para tal contou também com alguns grandes instrumentistas que participaram ao longo do álbum: José Oliveira, Rodrigo Pinheiro, Gregg Moore, Élia Fernandes, Nuno Rebelo, José Galissa, Jean François Lézé, Patrick Brennan e Nirankar Khalsa. Na opinião do multifacetado poeta italiano Enzo Minarelli, Américo Rodrigues entrega-se ao poder da sua garganta, sem truques nem enganos, para encantar, estontear e seduzir o público.
DIS NASTI DOG – Dis Nasti Dog – CD – AUDEO FDS003
É de 1999, também, o trabalho de rock experimental e avant-garde dos Dis Nasti Dog, para o qual contribuíram Vítor Rua (guitarra de 8 cordas, sampler E-Mu e computador Mac G3), João Galante (voz e guitarra) e Carlota Lagido (voz), acompanhados nas vozes por Bárbara Lagido e David Miguel. O trabalho é um expressivo pastiche de diversos estereótipos do imaginário rock norte-americano: “I’m a very nasty queen / The queen of rock’n’roll / I’ll fuck the universe / I’ll kill all humans”… O disco marca um regresso cáustico e raro de Vítor Rua (ex-GNR, Telectu) às paisagens bem mais próximas do formato de canção. O grupo também apresentou o trabalho numa performance multimédia, acompanhado em palco pelos DJs Murka e David Martins e pelo baterista Luís San Payo.
ALEXANDRE SOARES – Vooum – CD+ – AUDEO FDS004
Em 2000 lançámos ainda o segundo disco a solo de Alexandre Soares, um dos fundadores dos GNR e dos Três Tristes Tigres. Destinado a funcionar como uma costela musical para a criação dirigida e coreografada por Né Barros, do Balleteatro Companhia e Teatro Nacional S. João, apresentada no palco do Rivoli Teatro Municipal (do qual o CD inclui uma síntese em vídeo mais de 12 minutos), os oito temas de “Vooum” – que vão de “O partir” a “E o fim…” – funcionam na plenitude quando distanciados do espetáculo, apresentando-nos belas paisagens sonoras de guitarras planantes (elétricas e acústicas), como se numa longa viagem… No ano da sua apresentação e lançamento no Porto, o disco foi considerado o 2º melhor disco nacional do ano, numa crítica de Marcos Cruz para o Diário de Notícias.
NÉ BARROS / ALEXANDRE SOARES / FILIPE MARTINS – No Fly Zone – DVD – AUDEO FDS005
ISABEL BARROS / PEDRO TUDELA / FILIPE MARTINS – Là Où Je Dors – DVD – AUDEO FDS006
NÉ BARROS / ALEXANDRE SOARES / FILIPE MARTINS – Vaga – DVD – AUDEO FDS007
Em 2005, de uma nova parceria com o Balleteatro surgem três DVDs, lançados em simultâneo, sendo todos dirigidos por Filipe Martins: um com música de Alexandre Soares, para uma coreografia de Né Barros (e cenografia de Daniel Blaufuks, sendo coproduzido pelo Teatro Nacional S. João), outro com música e imagem do artista multimédia Pedro Tudela, para uma coreografia de Isabel Barros (e coprodução da Culturporto/Rivoli Teatro Municipal) e o terceiro também com música de Alexandre Soares, para outra coreografia de Né Barros (em coprodução com o Teatro Nacional S. João e Coimbra Capital Europeia da Cultura). Estes três trabalhos da coleção fora de série (FDS) tiveram uma edição limitada e única, estando já esgotados e descatalogados.
PHILIPPE DE SOUSA – Boîte à Petits… – CD – AUDEO 0405
Nesse ano, estabelecemos ainda uma parceria com a editora britânica ReR Megacorp, do percussionista, compositor e teorista musical Chris Cutler (dos Henry Cow e Art Bears). Assim seria lançado o CD de estreia a solo do guitarrista luso-francês Philippe de Sousa, um jovem instrumentista que integrava regularmente o grupo da cantora Bévinda e que participou também num disco do Cuarteto Cédron. Este trabalho, que acolheu a extraordinária colaboração fotográfica de Franco Zecchin, foi descrito pela ReR como an excellent, deeply musical record, tuneful and exquisitely played; always very Portuguese in flavour, but with an edge. Detuned moments are perfectly placed, and always contained in sharp, focused composition. Um belo disco de guitarra portuguesa, novo na abordagem e arejado no resultado!
HAARVÖL – The wayfarer – CD+DVD+Prints – AUDEO FDS008
Em 2021, no ano do nosso 30º aniversário, é lançada uma edição muito especial, limitada a 30 exemplares numerados, destinados a comercialização, e mais 20 considerados hors-série. Num formado gráfico de dimensões semelhantes às de um single de vinil, com capa e contra-capa compostas por duas gravuras originais, em serigrafia manual assinada pelo seu autor, o artista Eduardo Belga, o trabalho inclui um CD com peças inéditas do coletivo português de música eletrónica e experimental Haarvöl (Fernando José Pereira, João Faria e o artista visual Rui Manuel Vieira), mais um DVD com 6 filmes e ainda 6 fotografias, de diversos autores convidados, inspirados na música do disco. O resultado é verdadeiramente invulgar e brilhante, a todos os níveis, constituindo um perfeito e apetecível objeto de arte.
Em breve teremos certamente mais notícias da audEo.
O nosso website dedicado à editora pode ser consultado aqui.