Peter Christopherson entendeu que os Coil, fundados por John Balance, deveriam terminar após a morte deste. Mas antes, em 1992, eles tinham composto uma banda sonora para o filme de softcore educativo “Sara Dale’s Sensual Massage: The Stroke Of Pleasure”, que foi agora remasterizada para conhecer a sua primeira edição em disco.

Coil

Throbbing Gristle, Psychic TV e Coil

Os Coil nasceram em Londres, em 1983. O grupo foi criado por John Balance, como projeto paralelo ao grupo Psychic TV, do qual já fazia parte. Caracterizava-o uma forma invulgar de estar na música, integrando nela elementos de ocultismo, lirismo poético, experimentação sonora com sensibilidade medieval e vanguardismo tecnológico. No ano seguinte estabeleceu e cimentou a parceria com o músico, designer e fotógrafo Peter Christopherson (também conhecido como “Sleazy”), fundador dos Psychic TV e membro dos Throbbing Gristle, que reforçaria o projeto numa orientação experimental e vanguardista, no domínio da música eletrónica europeia da década de 80 e anos seguintes. Mas John Balance teve uma morte trágica em 2004 e Peter Christopherson entendeu que os Coil deveriam terminar, declarando o fim do grupo. Peter Christopherson viria a falecer também, apenas seis anos depois, em 2010.

Banda sonora para um filme sobre massagens sensuais

Infinite Fog Productions é uma editora russa e foi ela que lançou em finais de 2020 o disco que chegou agora até nós e que contém a banda sonora original composta pelos Coil para o vídeo lançado em 1992, ainda em formato VHS, “Sara Dale’s Sensual Massage: The Stroke Of Pleasure”, um suposto manual audiovisual sobre os segredos da massagem sensual. Mas esta nova edição, remasterizada por Martin Bowes, vai ainda mais longe, juntando-lhe oito faixas musicais exclusivas e inéditas. Já vamos ver isso com mais detalhe…

O vídeo “Sara Dale’s Sensual Massage” marcou o seu tempo, com uma abordagem sensual, erótica e heterossexual do corpo masculino. Há até quem o entenda como um filme de pornografia softcore disfarçado de filme educativo. A sua banda sonora tornou-se, no entanto, um objeto de desejo por parte dos atentos seguidores dos Coil que, como se sabe e nunca esconderam, se sentiam como “peixe dentro de água” em temáticas gay. Bons exemplos disso podem ser os álbuns “The Gay Man’s Guide To Safer Sex +2” (banda-sonora de 1992, lançada em disco apenas em 2019), “Love’s Secret Domain” (lançado em 1991 e recentemente reeditado numa edição comemorativa) ou “Scatology” (de 1984 e várias vezes também reeditado).

Numa entrevista que concedeu em 1995, John Balance satirizou sobre a sua colaboração e a do seu companheiro, Peter Christopherson, na obra que tinham assinado, dizendo claramente que se tratava de uma coisa do género “heteroerótica” e que esse não era claramente o tipo de caminho que os Coil pretendiam seguir. Aqui foi certamente a sua visão muito própria da sensualidade masculina que escolheram para acolher o projeto e para o concretizar num belíssimo trabalho musical.

“Sara Dale’s Sensual Massage: The Stroke Of Pleasure” é um disco incomum na extensa discografia dos Coil, reunindo sonoridades oníricas com harmonias muito suaves e brandos ritmos tribalistas, para além de sons de sinos e do chilrear de pássaros. Não que estes sejam outros Coil (e não os da música enigmática, quase mágica e inimitável), mas há aqui muito que nos parece estranhamente novo e que pode surpreender até o mais atento e dedicado fã.

Temas para Derek Jarman e outros extras

No entanto, o disco não se fecha na banda sonora para este vídeo, pois na sua continuação vão-se revelando sonoridades com estruturas rítmicas mais definidas e características da sua produção musical ao longo dos anos. Assim se encontra ainda um “Theme From Blue” (da banda-sonora dedicada ao filme dirigido por Derek Jarman a partir do leito do hospital, pouco antes da sua morte) e “The Hills Are Alive”, ambos os temas da fase produzida pela Basilisk Communications, bem como outras raridades.

O artista e ensaísta Phil Barrington, próximo dos Coil e de Derek Jarman, citado pela revista subcultural Lethal Amounts, afirma mesmo que esta banda sonora foi criada porque James MacKay, que produzia e distribuía diversos trabalhos de Derek Jarman através da Basilisk e já tinha trabalhado com os Psychic TV, estabeleceu em meados da década de 80 uma relação criativa com os Coil, que resultou em três bandas sonoras: a primeira para o filme “The Angelic Conversation” (1985), depois para o documentário educativo “Gay Man’s Guide To Safer Sex” (1992) e finalmente para “Blue” (1993), a longa-metragem que foi a despedida preparada de Derek Jarman.

CD e LP duplo com edições especiais e capa de Steven Stapleton

Agora editado em CD simples e em LP duplo (este de tiragem limitada), o álbum inclui um total de 18 temas: os primeiros 10 (5 no lado A do vinil e mais 5 no lado B) estão associados ao vídeo “Sara Dale’s Sensual Massage”; logo depois temos “Medieval Flange” (11º no CD e 6º no lado B dos vinis), seguido de “Plinkerton”, “Volcanozo”, “Aftertouch”, “Gamatalo”, “Theme From Blue I” e “Theme From Blue II” (12º ao 17º tema do CD e lado C dos vinis), concluindo com “Theme From Blue II (UHIIV) / (silence) / The Hills Are Alive” (18º tema do CD e lado D dos vinis). Existiram também outras edições limitadas e já esgotadas: em vinil transparente (100 unidades), em vinil azul radiado (100 unidades), em vinil multicolorido radiado (100 unidades) e numa caixa em madeira e metal (55 exemplares, apenas).

Parcialmente reproduzida na imagem que encabeça este texto, a psicadélica capa deste disco dos Coil, agora lançado pela Infinite Fog Productions, teve a assinatura de Steven Stapleton, fundador do grupo Nurse With Wound e também membro dos Current 93.

Texto CC BY 4.0 // Luís Freixo
Imagem © Infinite Fog Productions

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